D. Pedro IV e o Museu Nacional Soares dos Reis

O Museu Nacional de Soares dos Reis tem à sua guarda algumas peças que constituíram a farda de Coronel de Caçadores V, usada por D. Pedro de Alcântara, duque de Bragança, durante o Cerco do Porto.
Vale a pena determo-nos um pouco nos antecedentes desta guerra fratricida – o Cerco do Porto – que marcou a cidade nos anos de 1832 a 1834, no decorrer da Guerra Civil desencadeada entre liberais e absolutistas, respectivamente partidários de D. Pedro e de seu irmão D. Miguel: D. João VI morre em 1826. Sucede-lhe o filho primogénito, D. Pedro IV.

No entanto, este, já então imperador do Brasil, abdica do trono português a favor de sua filha, Maria da Glória, no momento com 7 anos de idade. Nomeia regente seu irmão D. Miguel, e trata de promover o casamento entre tio e sobrinha.
D. Miguel jura a Carta Constitucional mas depressa reivindica os seus direitos ao trono. E em 1828 proclama-se rei de Portugal, o que agrava a oposição entre liberais e absolutistas, traduzida em confrontos vários.
Até que em 1831, D Pedro decide abdicar do trono brasileiro, e vir para Portugal defender os direitos de D. Maria.
Assumindo o título de Duque de Bragança e regente do reino, dirige-se primeiramente aos Açores (ilha Terceira) de onde parte, animado por campanhas vitoriosas, para desembarcar no Mindelo, junto à cidade do Porto.
O exército de D. Pedro fica cercado no Porto, com um único reduto fora da cidade: o Mosteiro da Serra do Pilar. O “Cerco” decorre entre Julho de 1832 e Agosto de 1833. A Guerra Civil termina com a vitória liberal, reconhecida pela Convenção de Évora-Monte e assinada em Maio de 1834. D. Pedro morre em Setembro desse mesmo ano.

Voltando às peças de indumentária militar hoje guardadas no Museu Nacional de Soares dos Reis, são elas: dolman, colete, boné, chapéu armado, espada, talabarte, boldrié (cinturão com talim para suspensão de espada) óculo, porta-mapas. De significativo valor histórico, estão actualmente em reserva, só podendo ser expostas por curtos períodos de tempo, e com especiais cuidados de exposição, a que obriga principalmente, o material têxtil.

Finalmente, e nesta “memória” em que procurámos – também – associar D. Pedro IV e este Museu, queremos referir que o Museu Portuense, núcleo inicial do Museu Soares dos Reis, foi criado por sua iniciativa em 1833 (e instalado então no Convento de Santo António da Cidade). E lembrar que na 1ª fase do Cerco, o Duque de Bragança residiu no palácio dos Morais e Castro…no qual, cerca de 100 anos depois, viria a ser instalado o Museu.

Maria Lobato Guimarães, Museu Nacional Soares dos Reis

 

Fotografia(s): ADF / DGPC

Hit enter to search or ESC to close