Oferecido por D. Pedro ao Duque de Palmela, o retrato exposto na Sala da Administração do MMIPO – Museu e Igreja da Misericórdia do Porto é atribuído ao pintor Máximo Paulino dos Reis (1778-1865), pelo colecionador Stanislaw Herstal. Do percurso biográfico e artístico de Paulino dos Reis, importa salientar que era natural de Penafiel e foi exposto na Misericórdia do Porto. Seguiu muito novo para Lisboa (1792), onde aprendeu a desenhar e a pintar miniaturas, e depois para Roma (1802-1811). Regressou novamente a Lisboa, tendo trabalhado no Palácio da Ajuda e sido mestre de pintura e desenho da infanta Isabel Maria, filha de D. João VI.
O quadro, que deverá datar entre 1822 e 1824, é um óleo sobre tela representando D. Pedro já como Imperador do Brasil e como Príncipe Real do Reino de Portugal e dos Algarves.
D. Pedro IV, Provedor da Misericórdia do Porto
D. Pedro IV foi eleito provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto a 2 de julho de 1833, dia em que, por tradição, os provedores tomavam posse na instituição e se assinalava o Dia da Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel.
No ano de 1833, a população da cidade do Porto sofria as consequências do Cerco do Porto, traduzidas na destruição, na fome e na morte. A acrescer a tudo isto, assistiu-se à introdução no mesmo ano da cholera morbus, que se disseminou por toda a cidade e vitimou muitas pessoas. Esta epidemia levou à construção de dois cemitérios, nos extremos opostos da cidade, de acordo com a aprovação de D. Pedro. É no cemitério oriental, designado “Cemitério Prado do Repouso”, que a Misericórdia do Porto tem a sua secção privativa na qual se ergue, entre outros monumentos funerários, o Mausoléu dos Mártires da Liberdade que alberga os restos mortais dos doze homens liberais sentenciados pelo regime miguelista, na Praça Nova, em 1829.
A Misericórdia do Porto estava com falta de irmãos, visto que uns se encontravam ausentes e outros em armas. Esta necessidade levou a Irmandade, a 30 de junho de 1833, a aceitar pessoas influentes da cidade que não fossem irmãos. Dado que por alvará de 1 de julho de 1833 pertencia ao poder régio ratificar alterações ao Compromisso, D. Pedro aprovou a referida alteração que, de resto, validou a sua eleição como provedor, mesmo não sendo irmão da Misericórdia.
A tomada de posse de D. Pedro ocorreu dias depois, a 6 de julho, no Hospital de Santo António para onde a secretaria e a Casa do Despacho da Rua das Flores se haviam transferido devido a razões de segurança. Esta data corresponde à única vez em que o regente presidiu a uma sessão da Mesa. Nesta única sessão, D. Pedro, sensibilizado pelas dificuldades económicas da Misericórdia, propôs que se convidassem para confrades pessoas com posses na cidade e também, devido ao aumento do número de doentes do hospital, se dotasse o estabelecimento com uma nova “pauta de Dietas económicas, e adequadas ao novo methodo do curativo”. Esta pauta foi apresentada à Mesa, a 14 de agosto de 1833, tendo sido elaborada por uma Comissão presidida pelo médico do príncipe regente e constituída por dois médicos da sua confiança, por dois médicos do Hospital, pelo da Cadeia e pelo do Recolhimento de Órfãs.
Na ausência do provedor, coube ao escrivão desempenhar esse cargo. Atendendo a que se aproximavam as eleições do ano económico de 1834-1835 e que se desconhecia a vontade de D. Pedro quanto ao desejo da sua reeleição, a Mesa resolveu propor-lhe o título de “provedor nato”, sendo nomeado um vice-provedor em sua substituição. Esta situação, caso único na história da instituição, vigorou até 6 de abril de 1836.
por José Ferreira e Silva