O Mosteiro da Serra do Pilar é, tanto ou mais que uma bela edificação fora de série da arquitetura nacional, um símbolo incontornável da guerra civil de 1828/1834, guerra esta que teve na cidade do Porto uma das principais localizações geográficas da contenda e um dos palcos estratégicos fortemente decisivo para a sua resolução militar a favor das forças liberais. Com efeito, a heróica resistência das tropas leais a D. Pedro IV (1798-1834), no que então era o seu único reduto a sul do Douro, haveria de constituir um exemplo para todos os sitiados, tendo ainda o mérito de servir às escassas tropas cercadas a força interior e a inspiração necessárias a uma dramática resistência da quase totalidade dos portuenses, que nela também se inspiraram durante todo o período em que estas lutas decorreram.
Do ponto de vista estritamente arquitectónico, basta evidenciar a singularidade do seu desenho, com a rara concepção de dupla planta circular ao nível da igreja e do claustro (o que lhe confere um estatuto verdadeiramente original no panorama geral da arquitectura portuguesa de todos os tempos), para atestarmos a justeza da sua inscrição na lista do Património Mundial, ainda que por razões ligadas à sua natural integração no Centro Histórico da Cidade do Porto. No entanto, a circunstância deste edificado estar indissoluvelmente ligado ao património ideológico que comummente associamos às lutas liberais, confere-lhe uma aura simbólica que o coloca no patamar mais elevado da monumentalidade nacional, aliando as duas componentes que mais e melhor contribuem para o feito – a artística e a histórica – de um modo que só nos pode causar enorme admiração: pelo valor estético da primeira e pelo profundo respeito de exemplaridade militar e patriótica da segunda.
Podemos finalmente considerar, num esforço de síntese que sempre pecará por defeito, que este Monumento Nacional cumpre agora um papel de significação patrimonial de largo alcance, já que alberga nos seus espaços uma instalação dedicada ao “Património a Norte”, sob responsabilidade da Direção Regional de Cultura do Norte, pretendendo oferecer a todos os interessados uma visão geral e diversificada da riqueza patrimonial que o Norte de Portugal orgulhosamente possui. Com a sua mais recente integração na promissora Rota Porto Liberal, pretendemos exatamente reforçar esta função divulgadora do que de melhor possuímos para ofertar à fruição de todos os nossos visitantes, potenciando assim o valor simbólico de um património histórico e cultural que se (re)constrói todos os dias, a pensar no futuro.
Mais informações sobre o Mosteiro da Serra do Pilar em: http://www.culturanorte.pt/pt/patrimonio/mosteiro-da-serra-do-pilar/
Agostinho Ribeiro, DRCN
Fotografia: DRCN